Política

“Para Estevam Fernandes, misturar púlpito e palanque é ‘perigoso’ e deturpa a mensagem cristã.”

Em entrevista à rádio Arapuan, pastor critica o uso do nome de Deus como ferramenta política e afirma que fé não deve justificar escolhas eleitorais.

Na contramão de uma prática cada vez mais comum entre líderes religiosos, o pastor Estevam Fernandes, da Primeira Igreja Batista de João Pessoa, fez uma crítica firme e necessária ao uso do nome de Deus como ferramenta política. Em entrevista ao programa Arapuan Verdade, nesta quarta-feira (17), ele classificou essa prática como um “vírus que penetra no organismo” – e o alerta não poderia ser mais atual.

Vivemos uma era em que, infelizmente, parte do clero trocou o púlpito pelo palanque. Em vez de cuidar da fé e da espiritualidade, há pastores que preferem usar a Bíblia como cabo eleitoral. E, segundo Estevam, isso não tem nada de divino. “A política não precisa de Deus. Precisa do homem”, afirmou.

A fala soa como um recado direto para aqueles que, ao invés de defender projetos e ideias, invocam o nome de Deus para legitimar seus interesses e manipular a fé alheia. “Quando o cara coloca Deus nisso, a coisa é perigosa”, disse o pastor, destacando que justificar escolhas políticas em nome da fé é não apenas um erro, mas uma distorção da própria mensagem cristã.

Para Fernandes, a política é uma construção humana e deve ser tratada com responsabilidade, debate e projeto – não com slogans religiosos ou promessas divinas. Ele vai além e lembra que nem mesmo Jesus usou sua divindade para se promover: “Jesus nunca foi dizendo que ele foi Jesus”, afirmou.

O problema é que muitos pastores parecem achar que têm acesso exclusivo ao “coração de Deus” e se colocam como intérpretes da vontade divina nas urnas. A mistura entre púlpito e palanque vira uma armadilha perigosa para a democracia, alimentando fanatismo e distorcendo a função da fé.

Num momento em que o Brasil ainda tenta se recuperar das feridas abertas por uma polarização política que também passou pelas igrejas, ouvir um líder religioso dizer que a política deve ser feita com humanidade – e não com santidade forjada – é um sopro de lucidez. Que outros líderes ouçam e reflitam.

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